segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Leituras do Dia 2014.12.29

"Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, um pecador."


Pois, se a primeira aliança tivesse sido perfeita, não seria necessária uma nova aliança. Mas Deus vê que o seu povo é culpado e diz:
“Está chegando o tempo, diz o Senhor, em que farei uma nova aliança com o povo de Israel e com o povo de Judá. Essa aliança não será como aquela que eu fiz com os antepassados deles, no dia em que os peguei pela mão e os tirei da terra do Egito. Não foram fiéis à  aliança que fiz com eles, e por isso, diz o Senhor, eu os desprezei.
Quando esse tempo chegar, diz o Senhor, farei com o povo de Israel esta aliança: Eu porei as minhas leis na mente deles e no coração deles as escreverei. Eu serei o Deus deles, e eles serão o meu povo. Ninguém vai precisar ensinar o seu patrício nem o seu parente, dizendo: ‘Procure conhecer o Senhor.’ Porque todos me conhecerão, tanto as pessoas mais humildes como as mais importantes. Pois eu perdoarei os seus pecados e nunca mais lembrarei das suas maldades.”
E, quando Deus fala da nova aliança, é porque ele já tornou velha a primeira. E o que está ficando velho e gasto vai desaparecer logo.
Epístola aos Hebreus 8:7-13

Jesus e os discípulos chegaram à cidade de Jericó. Quando ele estava saindo da cidade, com os discípulos e uma grande multidão, encontrou um cego chamado Bartimeu, filho de Timeu. O cego estava sentado na beira do caminho, pedindo esmola. Quando ouviu alguém dizer que era Jesus de Nazaré que estava passando, o cego começou a gritar:
— Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!
Muitas pessoas o repreenderam e mandaram que ele calasse a boca, mas ele gritava ainda mais:
— Filho de Davi, tem piedade de mim!
Então Jesus parou e disse:
— Chamem o cego.
Eles chamaram e lhe disseram:
— Coragem! Levante-se porque ele está chamando você!
Então Bartimeu jogou a sua capa para um lado, levantou-se depressa e foi até o lugar onde Jesus estava.
— O que é que você quer que eu faça? — perguntou Jesus.
— Mestre, eu quero ver de novo! — respondeu ele.
— Vá; você está curado porque teve fé! — afirmou Jesus.
No mesmo instante, Bartimeu começou a ver de novo e foi seguindo Jesus pelo caminho.
Evangelho Segundo São Marcos 10:46-52

MEDITAÇÃO

Caríssimos,

O Natal é o início da Nova Aliança prometida pelo Senhor e lembrada pelo Apóstolo na epístola de hoje. A antiga aliança tratava da preparação de todo um povo com um só objetivo: que desse povo se levantasse uma mulher capaz e preparada para ser, literalmente em seu próprio corpo, a Arca da Nova Aliança, na qual a Palavra de Deus habitaria por nove meses e depois nasceria humildemente como um de nós.  Esta comparação é feita pelo próprio Evangelista São Lucas que faz diversos paralelos entre Maria e a Arca da Aliança em seu Evangelho. José, por sua vez, é chamado tradicionalmente de "o Justo". Um "justo", ou "tsadic", na religião judaica não é um mero elogio, mas um título, semelhante ao "santo" nas igrejas ortodoxa e romana. Refere-se a alguém completamente entregue a Deus e em quem a graça santificante encontrou um coração excepcionalmente mais receptivo. Assim, José e Maria cuidando de Jesus Cristo representam a Antiga e a Nova Aliança. A Antiga, como José, prepara, protege e dá espaço a nova. A nova reconhece, respeita e é grata a Antiga. Ambas servem a Nosso Senhor Jesus Cristo. A Antiga Aliança não chega a ver o Messias que lhe foi prometido. José falece antes do início do ministério de Jesus. Ele viu mais do Messias prometido que todos os profetas e heróis da Antiga Aliança, mas a plenitude da revelação estava destinada para a Nova Aliança.

No Evangelho de hoje temos um cego que chama por Jesus através de seu título da Antiga Aliança "Filho de Davi". Mas o que ele pede a esse descedente do antigo rei é mais do que reis e príncipes humanos podem dar. É cura e vida. Por tal fé, o homem cego dos olhos materiais via com os olhos do espírito. Correndo até o Cristo, o cego o chama de Mestre e, reconhecendo que era cego e incapaz de ver, declara que deseja ser curado.  Sua cegueira, claro, simboliza nossa própria cegueira no pecado, incapazes de vermos a luz de Deus. Ser cego é também símbolo de ser pecador. 

Assim vemos que o cego: 1) clama por Cristo insistentemente, e mesmo diante de Seu silêncio tem fé que será ouvido e atendido; 2) reconhece a soberania de Cristo, chamando-o de Meste e que mais do que líderes humanos, Ele pode o impossível; 3) reconhece que é cego/pecador.

Tendo sido curado, e diferente de tantos outros ingratos, o cego imediatamente começa a seguir o Cristo. Também o cego, que chamava Cristo de "Filho de Davi" representa a antiga Aliança, em vias de acabar, e todos nós presos as "alianças antigas" que tínhamos com o pecado e com a escuridão. Todas essas alianças antigas podem ser quebradas pelo Filho de Deus, para sermos admitidos na Nova Aliança, se O chamamos não pelo Seu nome da aliança antiga e carnal "Filho de Davi", mas aquele título da Nova Aliança que Pedro e os Apóstolos reconheram por inspiração do Espírito Santo: "Filho de Deus".  Como o cego, reconhecemos a soberania de Cristo chamando-o de Senhor, reconhecemos Seu infinito poder como Filho de Deus e que somos "cegos", isto é, pecadores. Por isso clamamos com insistência e humilde coragem: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, um pecador".

Que as bençãos de Nosso Senhor Jesus Cristo estejam sobre todos nós!

P.S.


Para compreendermos melhor o significado do termo "justo"(tsadic) atribuído a São José, e portanto entendermos a verdadeira a estatura espiritual do ancião pai adotivo de Cristo, segue abaixo a definição de Tsadic de acordo com um site judaico brasileiro:

O Tsadic
Segundo a opinião do Tanya, uma pessoa que passou por testes de força moral e de caráter, e não sucumbiu ao pecado em pensamento, palavra e ação não é exatamente o significado do termo tsadic. Este também não descreve a essência de um tsadic. Ao contrário, o título tsadic refere-se a uma pessoa que triunfou sobre sua alma animalesca. Esta vitória significa que ele expulsou, ou transformou em bem, o mal inerente a seu coração desde o momento em que nasceu.
No capítulo dez do Tanya, Rabi Shneur Zalman explica que há duas categorias gerais de tsadic.
Um tsadic imperfeito ou incompleto é alguém que conseguiu banir ou eliminar o mal dentro de si por meio de seu serviço Divino, como alude o versículo: "E erradicarás o mal de dentro de ti." Um tsadic perfeito ou consumado é alguém que não somente baniu qualquer traço de mal dentro de si, como também conseguiu transformar o mal em bem.
Conforme já destacamos, na sabedoria chassídica há uma distinção entre a faculdade do desejo da alma animalesca, e as "vestes imundas" nas quais a alma animalesca se veste. O poder do desejo não é necessariamente mau. Ele tem em si o potencial de ser atraído na direção do bem ou do mal. As "vestes imundas" nas quais a alma se veste são o produto da indulgência nos deleites físicos deste mundo. Assim como uma pessoa pode mudar de roupas à vontade, assim também pode tirar as vestes imundas que cobrem sua alma.
Banir e eliminar o mal
Deveria ser enfatizado que a transformação do poder do desejo da alma animalesca em amor a D’us caminha de mãos dadas com mudar completamente as vestes imundas. Devido a isto, o tsadic imperfeito, que não conseguiu transformar o mal em bem, também não conseguiu eliminar o mal dentro de si próprio. É por este motivo que o tsadic incompleto é também chamado "um tsadic que conhece o mal", ou "um tsadic no qual existe o mal", pois algum minúsculo vestígio do mal ainda permanece dentro dele, no lado esquerdo de seu coração. No entanto, em seu favor, devemos dizer que o vestígio do mal nunca é expresso em pensamento, palavra ou ação, pois "em razão de sua pequenez, é subjugado e anulado para o bem."
Rabi Shneur Zalman enfatiza que o nível de "um tsadic que conhece o mal" na verdade abrange miríades de níveis, que são classificados segundo a quantidade e a potência do mal que permanece dentro dele. Em um tsadic imperfeito, um vestígio do mal originário do elemento Ar permanece. Em outro, um traço do mal do elemento Terra sobrevive, e assim por diante. Em um tsadic incompleto, o mal é anulado pelo bem na proporção de um para sessenta. Em outro tsadic imperfeito, o mal é anulado na proporção de um para mil, ou dez mil, etc. Estas várias subdivisões na categoria do tsadic imperfeito são os níveis dos numerosos tsadikim encontrados em todas as gerações. Segundo o Tanya, este é o significado da declaração de Nossos Sábios, que "dezoito mil tsadikim ficam de pé perante o Eterno, bendito seja."
O mal não é sentido
O rei David declarou sobre si mesmo: "Meu coração está vazio (chalal) dentro de mim." Isso sugere que seu coração estava vazio da consciência da má inclinação. E a razão para isso está declarada no Talmud Yerushalmi: "pois ele o tinha matado através do jejum." A palavra chalal significa também um cadáver, implicando assim que depois que o Rei David tinha jejuado a tal ponto que destruiu sua má inclinação, tudo de que tinha consciência era o "cadáver" do yetser hará (yetser hará=inclinação para o mal) dentro dele. Este status é atingido por todo "tsadic que conhece o mal" na guerra contra a alma animalesca.
O tsadic imperfeito destruiu seu yetser hará, e cumpriu o versículo "erradicarás o mal de seu meio", embora às vezes o vestígio do mal que permanece dentro dele (o "cadáver" de seu yetser hará) demonstre sua presença. Mesmo assim, não tem efeito sobre ele (permanece um corpo sem vida, por assim dizer) e não pode perturbá-lo em seu serviço Divino ou impedi-lo de apegar-se a D’us.
Em contraste, o yetser hará do benoni (o sujeito que não é mais um pecador inveterado, mas não é um tsadic ainda) é passível de incomodá-lo ao máximo. Mesmo quando o benoni está ocupado com seu serviço Divino, e em meio a seu apego por D’us, maus pensamentos podem perturbá-lo. Para superar estes maus impulsos ele deve ir à guerra. No tsadic incompleto, porém, a aparência do mal é apenas transitória, e pode imediatamente ser ordenado a fugir sem qualquer luta. 
http://www.chabad.org.br/tora/cabalaterapia/cab125.html

E ainda:

O termo tsadic "justo", e seus significados associados, desenvolveram no pensamento rabínico do seu contraste Talmudico com hasid (honorifico "piedoso"), para sua exploração na literatura ética, e sua espiritualização esotérica na Cabala. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tsadic

De um ponto de vista ortodoxo, podemos ver que o estado de "justo" ou tsadic era o mais próximo que um membro da Antiga Aliança podia chegar da santidade antes da Encarnação, Morte e Ressurreição do Filho de Deus. Na verdade podemos colocar os termos "Justiça" e "Santidade" como expressões do mesmo fenômeno antes e depois dos eventos gloriosos da Vinda de Cristo.

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