quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O Inferno Testemunha a Glória do Homem



O Inferno Testemunha a Glória do Homem 


Leitor Fabio L. Leite 


Quando alguém critica a ideia de inferno, costuma alegar isto: que penas eternas e sofrimento sem fim são rigorosamente desproporcionais a qualquer erro que qualquer ser humano pudesse cometer. Que Deus age como um raivoso descontrolado batendo em criaturas que mal têm condições de entender o que fizeram e de que forma aquela sova eterna se relaciona com o que fizeram. Este raciocínio pode ser descrito assim: 



a) Justiça consiste na proporção entre a penalidade e  o crime e o criminoso; 

b) O inferno é infinitamente maior que qualquer crime e infinitamente maior que qualquer ser humano; 

c) Portanto o inferno é injusto. 




É a premissa (b) que creio estar errada. Não somos uma poeira ao vento sendo desproporcionalmente punidos. O ser humano é uma criatura cósmica. Mais do que cósmica, é uma criatura que é imagem e semelhança da própria fonte de existência do cosmos. Se você joga um cachorro em uma fornalha por ele ter roído seu chinelo, você é cruel e injusto. Se uma estrela implode ou se duas estrelas se chocam, o inferno de calor, luz e até distorções do espaço que se seguem são tanto naturais quanto proporcionais. Quando um ser humano peca contra si mesmo ou contra outros seres humanos, ele não é como um cachorro, pequeno e ignorante, fazendo xixi na Mona Lisa, e então perseguido por um supervisor cruel. Ele é como essas estrelas. Somos tão enormes quanto a perenidade e nossos crimes contra nós mesmos e o próximo são do tamanho da imortalidade. 



São Nicodemos do Monte Atos diz: 




"Deus criou primeiro o mundo dos anjos, depois o mundo visível. Depois de tudo, ele criou o homem, com uma alma invisível e um corpo visível. Criou-o como o universo, não um pequeno cosmo dentro de um grande cosmo, como disse Demócrito e outros filósofos opinaram, chamando o ente, o homem, de um microcosmo, limitando-o à perfeição do mundo visível. Não! Deus fez o homem, grande cosmo pela multidão de forças que contém, especialmente a razão intuitiva e discursiva, e a vontade, às quais o mundo que é perseguido pelos sentidos não possui." 




São Nektários de Egina escreveu: 



"Grande é o homem espiritual, o homem interior, o espírito ou alma que foi criado à imagem de nosso Deus criador. Ele, que não pode ser contido pelo universo, habita microscopicamente no coração do homem. Isso soa estranho, porém é verdade. O modo é místico, mas sua revelação é manifesta pelos efeitos. Deus é infinito e o universo está na palma de suas mãos. O homem é um grão de poeira e, ainda assim, ergue-se acima do cosmos, acima dos céus, e vê com seus olhos mentais a grandeza da criação. Examina e pesquisa o universo com seu poder racional. Descobre leis que governam o universo. Mede as mais vastas distâncias e dimensões dos corpos celestiais. Conhece sua densidade, solidez e quantidade de substâncias que compõem seus corpos no geral, a natureza e as forças repulsivas e atrativas dos enormes gigantes do firmamento celestial. Iluminado pela criação divina, seu intelecto busca o criador do universo. Estuda o caráter do criador divino e faz asserções sobre seus atributos. "




São Justino Popovich escreveu o seguinte: 



Os homens condenaram Deus à morte; com Sua Ressurreição Ele os condenou à imortalidade. Em troca dos golpes que recebeu, Ele nos abraçou; pelos insultos, nos deu bençãos; pela morte, imortalidade. Nunca o homem mostrou mais ódio a Deus do que quando O crucificaram; e Deus nunca mostrou mais amor à humanidade do que quando ressuscitou.  A Humanidade queria Deus morto, mas Deus, com sua Ressurreição, queria a Humanidade viva, o Deus crucificado ressurrecto no terceiro dia, depois de ter destruído a morte. Não há mais morte. A imortalidade cerca o homem e todo o mundo. 




Em toda sua terrível grandiosidade e infinitude, as penas eternas são um efeito proporcional e natural à auto-destruição de um ser magnificamente maior que todo o universo, um ser que em si pode conter todo o cosmos e a imagem do próprio Criador. O inferno é a implosão voluntária do homem.

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