sexta-feira, 5 de março de 2010

3o Domingo da Quaresma, o Domingo da Veneração da Santa Cruz

Amigos,
em vista do 3o Domingo da Quaresma, o Domingo da Veneração da Santa Cruz, reescrevi e expandi um artigo mais antigo sobre a Santa e Vivificante Cruz. Espero que a Graça de Deus complete em inspiração na sua leitura o muito que me faltou na escrita.
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A Santa Cruz


A Santa Cruz é a nova Árvore da Vida em paralelo com aquela do Paraíso pois nela estava o Fruto da Vida.

Lembremos da passagem em Gênesis 3:22:
"Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente"

O primeiro mandamento de Deus para o homem foi o jejum. O homem devia jejuar não comendo do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Quando o Homem quebrou este primeiro mandamento afastou-se de Deus pela desobediência, trazendo sobre si a doença, o pecado e a morte.

Caso tomasse da Árvore da Vida nessa condição, tornaria-se imortal e seria eternamente doente, pecador e...espiritualmente morto. O fruto da Árvore da Vida o tornaria eterno na condição em que estivesse.

Esse foi o motivo da expulsão de Adão e Eva: a infinita misericórdia de Deus que não queria que nos tornássemos eternos em um estado de decadência sem fim. E foi também por esta ilimitada misericórdia que Deus nos enviou Seu próprio Filho, Ele mesmo o Fruto da Vida, o Pão da Vida (Eu sou o Caminho, a Verdade e A VIDA). Vejamos as Santas Escrituras em São João, capítulo 6:

32 Disse-lhes, pois, Jesus: Na verdade, na verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu

Quem é que o Pai nos deus senão seu Filho? Ele é o Pão do céu como ele confirma em seguida:

33 Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.


Que também concorda com São João, capítulo 3:13:

Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu.


Aquele que desceu do céu, Aquele que o Pai nos deu é ele a Vida, Nosso Senhor Jesus Cristo, o que Ele diz de forma explícita em São João 6:51:

"Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo."

Sendo assim o madeiro da cruz torna-se o tronco árvore de onde o Pai nos concede o Fruto da Vida que outrora nos proibira. A ação redentora de Nosso Senhor tudo transfigura, tudo renova e um instrumento de morte se transforma em doador da Vida.

Sabemos também, através da última bem-aventurança em São Mateus 5

Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.

e de São João 15:20

Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.

Que a energia da Cruz é componente essencial da redenção, isto é como disse São Paulo ao Romanos 6:8 (repare a condicional):

Ora, *se* já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos.

Ou seja, que *se* "morremos" com Cristo, ressuscitaremos em Cristo. 

Reparem que há os que crêem que Deus veio sofrer em nosso lugar, isto é, que tendo padecido todas aquelas dores, nós devemos minimizar nossos sofrimentos, dores e frustrações. Que podemos buscar uma "vida boa", com confortos e seguranças e ainda assim estarmos com o Cristo.

Não é isso que ensinam as Santas Escrituras. Como vemos acima *se* morremos com Cristo, apenas então ressuscitaremos em Cristo. Ai daqueles que não padecem sofrimentos e vivem no fausto ou buscando sempre "alegria", "felicidade" e "bem-estar". Ai dos que acham que Jesus veio nos ajudar a ter uma vida confortável, ter festas e adeqüação social. Estes passam pela porta do Reino dos Céus e a desprezam, se riem dela e até mesmo a temem. 

O cristão ortodoxo não é apegado aos conceitos mundanos da busca da felicidade, da auto-realização, do "meu bem-estar primeiro". A cruz, o sofrimento, são a porta de entrada para ressurreição. É na dor que o pecador morre e o novo ser ressuscita "três dias depois". Não a buscamos como um masoquista, mas assim como o Cristo subiu voluntariamente à Cruz, nós também aceitamos obedientemente, em lágrimas consoladas pelo Espírito Santo e pelas orações da Santa Mãe de Deus, muitos dos problemas que encontramos em nossas vidas.  Não digo com isto, irmãos, que o doente não irá buscar tratamento. Digo sim que mesmo enquanto busca o tratamento, ele vai moldando o coração para compreender que a dor é um dom também. Todos um dia adormeceremos em Cristo. Como o Cristo, não buscamos a Cruz. Mas quando ela vem, aceitamos. São nas dores e sofrimentos da vida que o ser egoísta, que pensa em si em primeiro lugar morre.

Deixando morrer o "homem velho", carnal, das paixões, "crucificando-o", fazemos como São João Batista: "É necessário que *Ele* cresça e *eu* diminua" (S. João 3:30).

É o nosso "eu" que deve morrer - ego-ísmo, vem do grego, no qual ego significa "eu" e "egoísmo" é o culto do "eu". Que é a "felicidade" moderna, senão o "meu" bem-estar primeiro, a "minha" carreira, a "minha" vida, a "minha" educação, o "meu" espaço, o "meu" prazer? Tudo em torno do "eu". Casais se separam porque cada um sente seu "eu" insatisfeito ou "sufocado". Pequenas crueldades são cometidadas até no lar e no emprego para satisfazer nossos "eus". Perversões são legitimadas por constituírem satisfação do "eu". Vidas são sacrificadas para que não atrapalhem o estilo de vida que um "eu" sente ser seu por direito.

E de fato, na morte precisamente de todos estes "eus" está a energia da Santa e Vivificante Cruz; a aceitação do sofrimento e da dor ao invés de fugir deles, a diminuição constante do nosso eu, da nossa vontade para que a Dele seja plena em nós e possamos dizer com o Filho para o Pai:
"Que se faça a Tua Vontade e não a Minha" (S. Lucas 22:42);

e como São Paulo:
"Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim;" (Gálatas 2:20).

No dia da Liturgia são lidos os Salmos 22, 74 e 99 que profetizam a crucificação de Nosso Senhor. Isso demonstra que a Cruz faz parte da Salvação desde o início.

De fato, transmite-nos a Santa Tradição que o sacrifício redentor de Nosso Senhor é figurativamente mencionado já no proto-Evangelho do Gênesis (3:15) quando Deus diz à serpente: "E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e *tu lhe ferirás o calcanhar." Este ferir o calcanhar é uma alusão ao sofrimento, mesmo físico que Jesus iria passar milênios depois. Mas veja que o demônio causa um ferimento menor, apenas no calcanhar, enquanto o Cristo, "a semente" de Eva, fere a cabeça da serpente, o que a impede de agir e é ferida letal.

Finalmente, Nosso Senhor explica para Nicodemos de que modo esta Vida Eterna nos foi dada:

E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;
Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
(S. João 3:14-15)

As nossas cruzes pessoais são manifestações da Cruz de Cristo na vida do cristão. Sejamos como a Virgem Maria, Sta. Maria Madalena, S. João e a outra Maria e permaneçamos, na dor, ao pé da Cruz, sem fugir como fizeram os Apóstolos na ocasião. Diante dos obstáculos e das dores, peçamos a Deus a força para suportá-los com mais intensidade do que pedimos para que eles desapareçam. Muitas vezes, assim como a Cruz foi o instrumento que permitiu a Ressurreição, serão nossas cruzes que nos unirão a Deus. Diante da dor e do sofrimento, da injusta condenação, do fracasso inesperado e imerecido, das calúnias, digamos com o Cristo em S. Lc 22:42 "Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua". E sendo crucificados com o Cristo, ressuscitaremos nEle.

terça-feira, 2 de março de 2010

Patriarca de Jerusalém sobre a União das Igrejas: Amor *E* Verdade


Uma visita dos bispos da igreja católica romana alemã ao Patriarcado de Jerusalém

do website do Patriarcado de Jerusalém

Traduzido para o inglês pelo site OODE: http://www.oodegr.com/english/papismos/GermanBishopsVisit.htm

Traduzido do inglês para o português por Fabio L. Leite a partir do website: http://www.impantokratoros.gr/root.en.aspx


Gregoriano (16/09/2009)/Juliano(03/09/2009)


Na quarta-feira, 03/16-09-2009, Sua Beatitude o Patriarca de Jerusalém Teófilos III foi visitado pelo Dr. Gerhard Ludwig Müller, Bispo de Regensburg, Dr. Heinrich Mussinghoff, Bispo de Aechen e pelo Dr. Gerhard Feige, Bispo de Magdeburgo da Igreja Católica Romana, juntos com um pequeno grupo de acompanhantes, no contexto de suas visitas missionárias à Terra Santa, com o fim de conhecerem as Igrejas do Oriente Médio e reforçar a presença cristã naquele território.

O Bispo de Regensburgo, Dr. Gerhard Ludwig Müller, quando dirigindo-se à Sua Beatitude, fez referências à contribuição do Patriarcado de Jerusalém à teologia da Igreja através de seu posicionamento no apoio ao dogma cristológico do 4 Concílio Ecumênico de Calcedônia em 451 AC, quando o Patriarca Sofrônios que defendera as duas vontades e energias de Nosso Senhor Jesus Cristo, o posicionamento do Patriarca de Jerusalém durante a disputa Iconomáquica e também durante o corrente diálogo teológico com a Igreja Católica Romana.

Ele então entregou à Sua Beatitude a medalha do Instituto de Regensburgo pelo ensino da língua alemã para estudantes originários das Igrejas orientais. O Diretor Interino deste instituto, o clérigo Dr. Nikolaus Wyrwoll, era um dos acompanhantes no grupo de arciprestes católico-romanos.

Em sua resposta, Sua Beatitude deu as boas-vindas a Jerusalém ao Bispo de Regensburgo, Dr. Müller e seu grupo ; ele os agradeceu por suas palavras a respeito do posicionamento do Patriarcado de Jerusalém durante os períodos de crise na Igreja, assim como por sua colaboração em favor da união das Igrejas.

“Sua visita”, disse Sua Beatitude, “é significativa para a presença cristã na Terra Santa; é uma visita de solidariedade. Vocês têm familiaridade com os dogmas da Igreja e com a história eclesiástica. Também estão familiarizados com a atual situação política. Nós, entretanto, vivemos dentro dela. Existe aqui uma conhecida situação política e religiosa, com suas respectivas conseqüências. Nosso Patriarcado tem, ao longo das eras, cultivado um espírito de coexistência pacífica com o Islã e o Judaísmo. Não estamos falando de diálogo, ou de uma relação, mas de coexistência. Respeitamos os locais sagrados de peregrinação de todas as três religiões. A própria Jerusalém é uma Cidade Santa para todas as três. Jerusalém foi santificada pelo sangue dos profetas e de Jesus Cristo. Há espaço para os seguidores das três religiões. A resolução política do problema de Jerusalém é da alçada de outros. Nosso dever é preservar a singularidade espiritual de Jerusalém. A diminuição do elemento cristão não nos assusta: ‘não temais, Ó pequeno rebanho’ (S. Lc. 12:32). Todos estão familiarizados com a contribuição e a ajuda oferecidas pelo elemento cristão aqui. Em paralelo, entretanto, os cristãos também necessitam de ajuda e apoio. Estes já foram, às vezes, chamados de uma ‘comunidade’ – uma referência que não é válida, já que os cristãos daqui são nativos. Quanto ao diálogo teológico, somos a favor; entretanto, não o aguardamos com ansiedade. Acreditamos que devemos nos esforçar por uma unidade de fé, e não uma unidade de administração.”

Continuando sua fala, Sua Beatitude disse que o diálogo eclesiástico devia incluir também os monges, os quais não confundem ‘especulação com revelação’; eles sabem que o Cristianismo não envolve especulação. Eles sabem o que a verdade é: que o objetivo de um cristão é a deificação.  Os representantes do diálogo teológico entre as igrejas e os líderes das igrejas deveriam ficar felizes se ambos os níveis do diálogo coexistirem, isto é, o amor e a verdade. Não o amor sozinho.
Sua Beatitude enfatizou que já é hora de ambas as Igrejas examinarem o que as dividem, e não apenas os elementos que as unem.

“Os elementos que as unem já foram exaustivamente discutidos. O início da nossa unidade na fé se encontra no reconhecimento das nossas fraquezas. Já é hora de operarmos em nossas feridas.”

Do Secretariado-Mor