domingo, 25 de outubro de 2009

São Serafim e São Francisco - A Palavra dos Santos


Caros leitores,

o trecho abaixo foi traduzido pelo amigo Felipe Ortiz. É de grande importância em tempos de ecumenismo, pois é um testemunho de como Deus vê a questão da união das comunidades cristãs. Trata-se de uma visão em sonho que uma fiel protestante teve e na qual um santo romano e um santo ortodoxo lhe trazem a palavra de Deus. E não quaisquer santos, mas São Francisco e São Serafim,  os santos que talvez sejam os mais venerados na era moderna respectivamente entre os latinos e na Santa Igreja. Meditemos sobre a palavra de Deus revelada a nossa irmã através de seus santos.

Em Cristo,
      Fabio.

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São Serafim e São Francisco
Introdução e tradução: Felipe Ortiz


Por mais improvável que pareça, o encontro entre o católico italiano Francisco de Assis (1181/2-1226) e o ortodoxo russo Serafim de Sarov (1754-1833) chegou a acontecer.

E sua testemunha, surpreendentemente, foi uma protestante devota, na França, por volta do ano de 1925.

O trecho abaixo faz parte do livro São Serafim de Sarov -- Biografia Espiritual, escrito por um dos grandes ascetas e missionários ortodoxos do séc. XX, o Arquimandrita Lázaro (Moore), inglês convertido à ortodoxia (1902-1992).

Este livro, publicado postumamente, é considerado uma das melhores biografias de São Serafim. Na minha edição, que é a primeira, o trecho que traduzo abaixo está nas p. 239 a 243.

Esse livro já está esgotado, mas felizmente está prestes a ser reeditado, com outro nome, numa edição que aliás parece que será muito bonita: http://anaphorapres s.com/music/ pre-release- sale/


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O evento que relatamos abaixo nos foi comunicado verbalmente em agosto de 1931 pelo Sr. K., que mais tarde o escreveu em uma carta dirigida a nós. É dessa carta que faremos uso aqui.

É de conhecimento geral que São Serafim sabia por experiência e disse mais de uma vez que o Cristianismo estava preservado em toda a sua plenitude e pureza na Igreja Ortodoxa. E o que é mais impressionante e convincente é sua própria sublime virtude e a abundância da graça que habitava nele com tal "poder" (Mc 9:1) que raramente se viu até nos santos antigos. É suficiente mencionar apenas a conversa de N. A. Motovilov com o santo (durante a qual ele se transfigurou miraculosamente, como o Senhor no Monte Tabor) para firmar, sem a menor dúvida, que a Ortodoxia ainda retém de fato a sua pureza, vitalidade, plenitude e perfeição originais. Mas citemos suas próprias palavras:

"Nós temos a fé ortodoxa, que não tem a mínima mácula."

"Rogo-vos e suplico-vos", disse ele em certa ocasião a alguns veterorritualistas, "ide à Igreja Greco-Russa. Ela está em toda a glória e poder de Deus. Ela é dirigida pelo Espírito Santo."

Isso também foi testemunhado por uma adepta de outra confissão. Aqui estão os fatos.

"Um amigo meu", escreve o Sr. K., "encaminhou-me uma carta escrita em francês na qual uma senhora alsaciana pede a ele para enviar-lhe alguma coisa sobre a Igreja Ortodoxa Russa -- um livro de orações ou algo do gênero. Se não me engano, foi no ano de 1925. Algo foi-lhe enviado como resposta à carta e, por algum tempo, a coisa ficou nisso.

"Em 1927, eu estava naquela localidade e tentei entrar em contato com ela; mas ela estava em viagem, nas férias de verão, e eu só pude conhecer a sua sogra, uma velha senhora de grande caridade cristã e pureza de coração.

"Ela me contou que sua família pertencia a uma antiga e nobre linhagem da Alsácia, os N.N.s, e que eles eram protestantes. Devo dizer que naquele distrito da Alsácia os aldeões são de religião mista: metade são católicos romanos e a outra metade protestantes. Eles compartilham a mesma igreja, na qual celebram seus ofícios em revezamento. Nos fundos da igreja há um altar católico com imagens e todos os demais apetrechos. Quando os protestantes celebram um culto, eles puxam uma cortina em frente ao altar católico, deslizam sua mesa até o meio e rezam. Recentemente tem havido um movimento entre os protestantes da Alsácia a favor da veneração dos santos. Isso aconteceu depois da publicação do livro de Sabatier sobre Francisco de Assis. Apesar de protestante, ele se deixou cativar pelo modo de vida desse santo depois de uma visita a Assis. A família de meus amigos também caiu sob os encantos deste livro. Embora tivessem permanecido no protestantismo, eles ainda assim se sentiam insatisfeitos; particularmente, empenhavam-se pela restauração dos sacramentos e da veneração dos santos. Além disso, foi típico deles que, quando o pastor realizou a sua cerimônia de casamento, eles pediram-lhe para não puxar a cortina sobre o altar católico, a fim de que pudessem pelo menos ver as imagens dos santos. Seu coração procurava a Verdadeira Igreja.

"Certa vez, a jovem esposa estava doente, sentada no jardim, lendo uma vida de Francisco de Assis. O jardim estava em plena floração. O silêncio do campo a envolvia. Enquanto lia o livro, ela caiu num sono leve.

"'Eu mesma não sei como foi que aconteceu', ela me disse mais tarde. 'De repente eu vi o próprio Francisco vindo em minha direção e, com ele, um velhinho semelhante a um patriarca, recurvado mas radiante', disse ela, indicando dessa forma a velhice e a aparência venerável dele. Ele estava todo de branco. Ela se apavorou, mas eles chegaram bem perto dela e Francisco disse: 'Minha filha, tu buscas a verdadeira Igreja. Ela está ali, onde ele está. Ela apoia todos e não exige o apoio de ninguém.'

"O ancião branco permaneceu calado e apenas sorriu em aprovação às palavras de Francisco. A visão terminou. A mulher como que tornou a si. E de algum modo ocorreu-lhe o pensamento: 'Isso tem ligação com a Igreja Russa.' E a paz desceu à sua alma. Depois dessa visão, foi escrita aquela carta a que me referi no começo.

"Dois meses mais tarde, eu estava de novo em sua casa, e dessa vez fiquei sabendo de mais um detalhe através da própria vidente. Eles haviam contratado um empregado russo. Quando ela entrou no quarto dele para ver se ele estava acomodado confortavelmente, ela viu ali um pequeno ícone e reconheceu nele o ancião a quem havia visto, durante seu sono leve, com Francisco. Perplexa e alarmada, ela perguntou: 'Quem é ele, esse velhinho?'

"'São Serafim, nosso santo ortodoxo', respondeu o empregado. Então ela compreendeu o significado das palavras de Francisco sobre a verdade estar na Igreja Ortodoxa."

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O "Deus" do Futebol


O "Deus" do Futebol
© Rev. Bispo Hierotheos, Metropolita de Lepanto e S. Vlassios
Tradução © Fabio Lins Leite


Deus e o futebol, de Alireza Nosrati, Irã

  O mês de junho foi marcado pela copa do mundo que ocorreu no Japão e na Coréia. Muitas pessoas assistiram aos jogos entre as seleções por muitas horas ao dia e sabiam tudo a respeito dos jogos.

  O que me impressionou foi uma "oração" escrita por um "padre" anglicano chamado Fletcher na véspera do jogo decisivo entre a Inglaterra e o Brasil. A oração foi transmitida pela BBC de acordo com o jornal "Eleftherotypia" de 22 de june de 2002. A oração era a seguinte:

"Ergue-te ó Senhor e impede que o Brasil nos domine. Espalha o terror sobre eles, Senhor. Ergue-te e estende a Tua mão para suprimir a força de Rivaldo e Ronaldo. Faz descer sobre Ronaldinho a confusão e, ó Senhor Todo-Poderoso, se isto não funcionar também, pelo menos nos garanta um gol no último minuto, mesmo que de uma posição ruim. Socorre-nos, Senhor, para alcançarmos as finais, mesmo que ocorram em um domingo e ninguém vá a Igreja!".

  De acordo com o "Eleftheros Typos" de 21 de junho de 2002, a oração ainda continha frases como "faça com que as traves deles sejam semelhantes... a corredores de aeroportos e seu goleiro pequeno como uma formiga". E o jornal comentou: "Piedade!"

  A primeira vista, o conteúdo desta oração nos faz dar gargalhadas e cria a impressão que não deve se deve levar esse tipo de coisa a sério. Entretanto, o assunto também possui alguns aspectos interessantes.

  Para muitas pessoas, o futebol é uma religião, um culto. Muitas das expressões utilizadas são retiradas da religião. O torcedores sentam-se e seus "deuses", os jogadores, competem como em um embate de deuses no campo por Vitória. Já que o futebol é considerado por muitos como um novo culto, há nele certamente seu próprio deus, o deus do futebol. Eles oram para este deus inexistente. De fato, existem expressões como "a lei do futebol", "a bola pune", "jogador mágico"(N.T.1).

  Lemos no "Kathimerini": "Então testemunhamos este ano os iluminados do Ocidente quebrarem facilmente o recorde de superstições: um, o técnico da Itália, deixa cair ritualmente um pouco de água benta dada a ele por sua irmã freira; outro (o técnico da Espanha) beija apaixonada e secretamente (para não ser flagrado pelas ansiosas câmeras blasfemas) uma pequena imagem em sua bolsa, provavelmente de São José Goleador. Mas a medalha de ouro da superstição vai para os ingleses, que por muitos anos já vem idolatrando Becham como se fosse o décimo-terceiro apóstolo, e é por isto que construiram para ele uma estátua na praça Trafalgar, para adorá-lo sob sua sombra e orar." "Os fãs de todos os times respeitam os costumes das superstições - eles se benzem, murmuram hocus-pocus, cruzam os dedos e oram a Allah.

  Mas qualquer que seja sua religião ou seu deus do futebol, no final das contas, continuam fiéias a sua doutrina de auto-idolatria" (30/06/2002, p.4). Depois da vitória do Brasil, surgiram as machetes: no alemão German Bild "Deus é brasileiro"; no francês Equipe: "Brasil pela Eternidade"; no Washington Post: "Um Carnaval Divino de Vitórias". A conquista da Copa do Mundo pelo Brasil foi uma oportunidade para a glorificação da religião do futebol" (Eleftherotypia, Tuesday 2-7-2002).

  Voltando a oração do "padre" anglicano, deixem-me destacar que ela revela uma outra realidade também e que é que nós estragamos mesmo os momentos mais sagrados em nossas vidas. A oração é a mais santa comunicação com Deus, é uma "relação entre o homem e Deus". Mas nós pervertemos até mesmo este fato santo. Fazemos preces similares a esta quando pedimos a Deus para nos ajudar com nossos objetivos mesquinhos e com nossas piores paixões humanas, para ter sucesso profissional, para atrair a atenção ou o interesse, para multiplicar nosso dinheiro, para ver alguém "pagar" por algo, para satisfazer nossas ambições e prazeres imorais e ilegais.

  Temos que entender que a oração deve ser feita principalmente para a terapia da nossa alma. Não podemos utilizar o nome de Deus para questões fúteis. De outro modo enganamos não a Deus, mas a nós mesmos.

(Nota do Tradutor: Estas são expressões típicas do grego que o autor menciona. No Brasil são diferentes, mas não há de se negar que as nossas também traem uma paixão excessiva pelo que não passa de um jogo.)